Eu demorei… demorei a gostar de Lisboa. Demorei a aceitar a minha primeira “derrota” na Alemanha. Isso até emergir um sentimento novo, numa tarde de domingo, em uma caminhada ali entre os alfarrabistas da Baixa Lisboeta. Era um convite. Uma pausa à desesperança.
Neste dia, a cidade me permitiu escutar a voz da Poesia.
Tudo estava diferente. A luz, o cheiro, as pessoas. Parecia aquele último curta – Paris Je t’aime, no qual a personagem senta-se diante do parque principal da cidade e percebe que ali, sozinha, apaixonou-se por Paris.
Eu alí, sozinha, no outono de 2012, sentei-me ao pé do grande Camões. Tomei um cálice de vinho do Porto, acompanhado de um pastelzinho de nata. Li metade do Livro do Dessassosego naquela tarde aquecida a vinho, doces e palavras.
Andei pelo Bairro Alto. Naquela altura, estava sozinha. Não tinha amigos, não conhecia ninguém. Não tinha lenço nem documento e precisava ouvir alguma resposta de conforto do destino.
Era isto real e possível ou mais um falhanço?
Cheguei ao largo da Graça. Vi aquele elétrico amarelinho passar. Fotografei com meus olhos cada estalar da ferrovia. Pousei meu caderno mais adiante, no miradouro Príncipe Real. Olhei o horizonte. Minhas pernas não sustentavam a beleza. Sentei-me.
Fernando Pessoa tinha razão, se eu pensasse demais meu coração pararia.
Nesse instante, vislumbrei Lisboa. Apaixonei-me como a um pássaro em seu primeiro voo. E esse pássaro voou até o Castelo de São Jorge. Retornou ávido cruzando a Rua Augusta. Beijou-me de volta, anunciando que eu também flechara o coração de Lisboa.
Voei com a caneta e com as tantas histórias, desde à saída do Porto até à chegada em Santa Apolónia, minha primeira viagem de trem, naquele país.
Era a alegria sussurrando em meus ouvidos. É uma memória poética enraizada em mim, desde aquela tarde de domingo, quando apaixonei-me por Lisboa.